“Quando completei 18 anos, o que acreditava que não passaria: estupro aos 5 anos de idade, aliciada pela mãe, e a exploração infantil por sete anos, eram marcas do passado. Eu superei. Não me prostitui. Tenho um Deus que me fortalece, que me guia”, relembra a jovem, sinônimo de superação.
Violentada aos 5 anos de idade por um empresário em Campo Belo (MG), aliciada pela própria mãe; vítima de exploração infantil, agressão física e psicológica por 7 anos. Apesar de toda a violência, de ter sido privada do direito de uma infância feliz e saudável, ela se recuperou acreditou em um futuro promissor. Superação resume Laury Evillyn dos Reis. Aos 21 anos, a jovem revelou publicamente os momentos traumáticos vivenciados por anos na infância. O abuso sexual de criança e adolescente é um tema complexo, sobretudo por envolver pessoas conhecidas da família.
Na história comovente que será retratada, a jovem garante que a fé em Deus foi suporte para driblar todo o sofrimento, recuperar-se psicologicamente e hoje se orgulhar das conquistas pessoais e profissionais. Ela se transformou uma mulher responsável, determinada, além de linda. Depois de viver em abrigo, incertezas sobre o seu destino, sofrer maus tratos e violência sexual e física, Laury conquistou a sua independência e atualmente atua para combater a violência e exploração sexual infantil. A jovem trabalha desde a adolescência. Com potencial, ela escolheu a enfermagem como profissão e em breve concluirá o curso.
Em seu depoimento para a Campanha de Combate à Violência Sexual Infantil, Laury reforça a conscientização da população brasileira sobre a importância de proteger crianças e adolescentes contra a violência sexual. Realidade no país, infelizmente. De acordo com dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2020 foram registradas mais de 22 mil denúncias do abuso sexual infantil no Brasil. O número alarmante e precisa ser revertido. A cada hora três crianças são abusadas no Brasil. Cinquenta e um por cento das vítimas têm de 1 a 5 anos de idade.
Abuso
Em 2008 um empresário de Campo Belo (MG) foi preso acusado de abusar de uma criança de 5 anos de idade. Os abusos, segundo a denúncia, eram consentidos pela mãe da vítima, que perdeu a guarda da menor. A menina teve que ser levada para o abrigo. Aos 21 anos, Laury Evillyn tornou pública as agressões sofridas na infância na campanha Maio Laranja, que visa a conscientizar sobre o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A violência, em geral, é cometida por alguém próximo da vítima e quase sempre dentro de casa.
Ela relata que sofreu abuso sexual durante um ano. A mudança em seu comportamento, o jeito retraído da então menina chamou a atenção de familiares. Ao decorrer do tempo, Laury contou a situação a um familiar ao ser questionada sobre as visitas diárias do empresário. “Eu não aguentava aquele silêncio e detalhei a verdade”, relembra a jovem.
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A revelação resultou na prisão do abusador, mas Laury foi para o abrigo.
Sofrimento, medo e incerteza
Após alguns anos, a menina sofreu novamente. Levada para a casa de parentes em Santana do Jacaré, ela se viu vítima de exploração infantil. “Era muito presa, de casa para a escola e vice-versa. Durante 7 anos apresentava marcas no corpo. O meu confidente era o diário. Eu sempre escrevia: – Meu Deus até quando isso? Quantas noites chorando. Cheguei a usar a frase ‘eu nasci para sofrer’. Certo dia levei uma surra e eles utilizaram mangueira”, lembrou-se.
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Naquele dia, apesar do calor intenso, Laury foi pra escola com blusa de frio. Professores observaram aquela situação atípica. “A escola fez a denúncia, após sete anos de sofrimento. Fui embora pra casa, mas o conselho tutelar de Santana me buscou e eu contei a verdade”, revelou.
Laury chegou a ser adotada. “Fui morar com uma moça que sonhava em ter filhos, morei por cinco meses. Estava abalada psicologicamente e optei em voltar para Campo Belo e morar com uma tia. Mas a conselheira à época disse que seria impossível e que o meu destino seria abrigo em Belo Horizonte”, recorda-se com tristeza.
O mundo de Laury desabou. “De novo não! Eles ligaram para a minha madrinha e perguntaram se poderia ficar responsável por mim por 15 dias até que o procedimento de transferência fosse concluído. Isso ocorreu em 2018”, contou.
O tempo passou e Laury completou a maioridade. “Naquele momento pude decidir e fui morar com a minha tia. Trabalhei, estudei. Mais tarde resolvi então viver sozinha. Segui minha vida”, posicionou-se
Independência
Com o trabalho Laury construiu o seu lar. “Estruturei a minha casa, adquiri móveis. Isso me fortaleceu, foram conquistas, fruto do meu trabalho. Com o passar do tempo aquelas lembranças de sofrimento foram ficando no passado. Traumas, medo. O que acreditava que não passaria: estupro aos 5 anos de idade e a exploração infantil por sete anos, eram marcas do passado. Eu superei. Não me prostitui. Tenho um Deus que me fortalece, que me guia”, completa.
Laury hoje dá testemunhos e trabalha para combater a violência contra criança e adolescente. “Não se cale! Denuncie, vamos nos unir e proteger nossas crianças por uma sociedade mais justa e protegida para todos”, finaliza a jovem.
Alerta
Para identificar quem está sofrendo os abusos, é preciso ficar atento aos sinais. Entre eles, estão mudanças de comportamento, comportamentos infantis repentinos, silêncio predominante, mudanças súbitas de hábitos, queda no rendimento escolar, traumatismos físicos e comportamentos sexuais.
Dependendo do gênero da criança, a forma de expressar esses sinais também muda. Então, para meninas, são mais comuns os transtornos alimentares, o choro frequente, o humor deprimido. No caso dos meninos, aparece a agressividade, a raiva. É extremamente importante observar os comportamentos da criança em todos os ambientes em que ela transita. Seja em casa, na escola ou na casa de parentes.